Somos arqueiros. Arqueiros que nunca erram.
O ponto será atingido sem que se possa evitar.
Onde estão minhas setas de amor que não encontro? Gosto
delas. Suas feridas saram logo e as marcas são formosas. Não as
encontro.
Onde estão minhas ternas setas?
Só alcanço as flechas ciúme, flechas orgulho, flechas
covardia e flechas maledicência, mas estas fazem sangrar tão fino que só quem
sente, vê. Tais lanças não trazem bons frutos. Não as ambiciono ou
respeito. Não as quero!
Não as quero, mas somente estas me dão e insistem em me
ofertar.
Estes dardos ferem de morte. Não são amigos dos cupidos nem
da alma. Não os desejo! Não os lançarei!
Quero minhas setas de Filotes*
Sem elas não lutarei pois não luto luta de morte. Se não as
tenho, buscarei.
Recuo sem temer pois de aparentes derrotas derivam genuínas
vitórias.
Nossas setas são desiguais. Não combatemos o mesmo combate.
Deponho minhas armas, hasteio minhas brancas bandeiras, bato
em retirada e curo as feridas.
Ao ressurgir na batalha, trarei amorosas lanças e mais
densos escudos. Se permitires, minha seta alvejará o teu peito, libertará tuas
luzes e despontarás, apesar da dor.
Ainda que ulcerada pelas tuas setas magoadas, resistirei.
Me refarei e te devolverei benquerença.
Eis a minha lida e se não queres este mote, não pise em meu
campo sagrado.
* Filotes: Personificação da ternura (deusa da
mitologia latina).
Fonte: mundodamitologia.blogspot.com/